Por Poliana Pires, Terapeuta Ocupacional
A criança precisa explorar o mundo adequadamente para poder se desenvolver. A Terapia Ocupacional tem como objetivo a construção de instrumentos físicos e psíquicos para que essa exploração favoreça ao máximo o processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança.
Para explorar o mundo a criança deve desejá-lo (não há sentido em andar se não deseja chegar em algum lugar; não há sentido em encaixar peças se não deseja construir algo). A possibilidade de desejar algo e saber como realizar o desejado é uma das dificuldades observadas nas crianças com Síndrome de Down, e ajudá-las a aprender a fazer isso é o centro da ação do Terapeuta Ocupacional.
O nosso mundo é sensorial e uma das demandas mais básicas da nossa existência é interpretar e responder a estímulos sensoriais. Mas tudo isso é tão natural que nem ao menos percebemos que faz parte de algo tão importante e essencial: há estímulos que nos acalmam, como uma massagem com pressão profunda ou uma música tranquila, outros estímulos nos alertam, como o cheiro gostoso do café da manhã ou um barulho diferente na noite escura. Tem estímulos que exigem resposta rápida, como o cheiro de fumaça da panela queimando no fogão, outros precisam ser esquecidos, como o ruído do motor da geladeira na cozinha, para que possamos focar a atenção em tarefas relevantes.
A Integração Sensorial é essa habilidade para organizar os estímulos sensoriais, selecionar as informações importantes, que merece atenção ou exige algum tipo de resposta, e ignorar o que não é relevante no momento; enfim, habilidade para organizar e interpretar os estímulos para agir de acordo com a situação e as demandas do ambiente.
O foco da abordagem de Integração Sensorial Infantil é nos mecanismos sensoriais usados para prestar atenção, aprender sobre o ambiente e manter a organização do comportamento. Um conceito importante na terapia de IS é oferecer “desafio na medida certa” para engajar a criança e promover respostas adaptativas cada vez mais complexas e criativas.
A grande maioria das crianças com Síndrome de Down enfrentam problemas no processamento de estímulos sensoriais (vestibular, proprioceptivo, tátil, visual e auditivo), o que pode interferir significativamente em sua atenção, aprendizagem escolar e em seu desenvolvimento de habilidades motoras. Por isso o uso da abordagem de Integração Sensorial beneficia os processos de desenvolvimento dessas crianças.
Alguns aspectos característicos das crianças com Síndrome de Down justificam a necessidade da Intervenção em Integração Sensorial:
- Mau processamento vestibular e proprioceptivo: hipotonia; hipermobilidade articular; dificuldade na extensão do corpo e da cabeça contra a gravidade; controle postural pobre; atrasos nas respostas posturais automáticas; tendência a buscar certos movimentos; dificuldade em sentir a posição do corpo no espaço e movimentar-se; atraso no desenvolvimento do feedback proprioceptivo; movimentos mais bruscos, segmentados e com comportamento desajeitado (grande maioria das crianças com esse diagnóstico).
- Dificuldade em perceber dor ou saciedade.
- Distração excessiva aos estímulos do ambiente e impulsividade.
- Dificuldade no registro e modulação do processamento de informações vestibular, proprioceptiva e tátil.
- Mau processamento tátil: hiporresponsividade; alteração na discriminação dos inputs táteis e na integração deles com os demais sistemas sensoriais; dificuldade no desenvolvimento da percepção tátil e déficit na estereognosia (capacidade de conhecer a natureza, forma e propriedades físicas dos objetos através do tato).
- Atraso no desenvolvimento da coordenação motora grossa e fina.
A terapia de Integração Sensorial pode beneficiar as crianças com Síndrome de Down através de uma abordagem que prioriza o uso dos sistemas sensoriais de forma integrada com experiências vestibulares, proprioceptivas e táteis ao propor atividades funcionais que trabalham registro e discriminação tátil, movimentos que coordenam o corpo contra a gravidade, favorecem a integração bilateral, movimentos recíprocos, ideação e planejamento motor. Além de trabalhar com habilidades motoras, as atividades na Integração Sensorial visam a auto regulação e modulação do nível de alerta ótimo.
O desenvolvimento dos sentidos no geral facilitará o conhecimento de si mesmo e do mundo que o brincar proporciona à criança e, como consequência, sua adaptação ao meio.
Por Poliana Pires, Terapeuta Ocupacional